Mas vinte anos mais tarde, em Lisboa, os antigos membros voltam a encontrar-se quando o procurador-geral pretende candidatar-se à Presidência da República. A ambição cruza-se então com o escândalo de pedofilia, e, desta vez, não é o prazer que espera os antigos membros do Clube de Macau, mas uma guerra sem tréguas.
Inspirado pelo Processo Casa Pia, O Clube de Macau é o terceiro romance de Pedro G. Rosado sobre os submundos da realidade portuguesa, depois de Crimes Solitários e de Ulianov e o Diabo, completando a trilogia O Estado do Crime."
Este é o terceiro livro de Pedro Rosado que leio e foi o que mais me impressionou. Não que contenha descrições impressionantes ou chocantes, mas sim pela história que conta.
Tudo começa em Macau, onde um grupo de amigos (um juiz, três polícias, um médico e um apresentador de televisão) decidem criar o seu próprio bordel, a que chamam Clube de Macau. Para "abastecerem" o bordel, recorrem a um traficante de armas, droga e mulheres, que lhes traz as raparigas, todas menores, a troco de promessas de uma vida no Ocidente.
Um dos fundadores do Clube, o então polícia Carlos Vasques, estabelece uma relação mais próxima com uma dessas raparigas, Li Huei, e esta afasta-se do Clube. No entanto, Carlos Vasques permite que ela continue a receber um outro membro do Clube, apesar de saber que o filho de Li Huei é também seu filho. Esta relação entre o português e a menor chinesa incomoda os outros membros do Clube de Macau pois trai a sua base.
Um dia Li Huei aparece morta, assassinada. Carlos Vasques encontra o seu corpo, sem vida, na casa onde a visita e sai, levando consigo o seu filho. A partir desse dia, todos os membros do Clube de Macau regressam a Portugal, deixando para trás o passado e muitas dúvidas.
Vinte anos depois, o Clube de Macau parece ressuscitar na memória daqueles que o queriam esquecer. Carlos Vasques é dono de uma empresa de segurança, tendo como principal actividade a segurança pessoal de empresários. Um dos seus clientes, contacta-o, oferecendo-lhe bastante dinheiro pelo trabalho que lhe propõe: o procurador-geral da República é candidato à Presidência da República e Vasques terá de impedir a sua candidatura. Para convencer Carlos a aceitar o trabalho, o seu cliente entrega-lhe duas fotografias que o fazem reviver fantasmas que há muito tenta esquecer. Nessas fotografias está Carlos de Sousa Ribeiro (o procurador-geral e fundador do Clube de Macau) em actos sexuais explícitos com um rapaz, que aparenta ser menor de idade. Mas não é o acto que a fotografia revela que mais enfurece Carlos Vasques, mas sim o rosto do rapaz, que lhe faz lembrar o de Li Huei. Poderá ser o seu filho? O filho que ele deixou à porta do Colégio da Beneficiência, colégio que mais tarde viria a ser o centro do escândalo de pedofilia que originou o tão conhecido "Processo da Beneficiência", conduzido de forma exemplar pelo procurador-geral da República Carlos de Sousa Ribeiro?
E assim começa uma cruzada de vingança, em que o passado se transporta para o presente e onde não há inocentes.
A história relatada no livro é assustadora, e deixa-nos a pensar sobre a forma como interesses tão horripilantes são camuflados à sombra daqueles que os deviam denunciar e lutar pela condenação dos envolvidos. Mas quererá alguém lutar pela sua própria condenação?
Uma história que nos arrepia, principalmente quando pensamos que um caso semelhante, e que inspirou o autor, ainda está por resolver.
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