sábado, 12 de setembro de 2009

"A Solidão dos Números Primos" - Paolo Giordano

Sinopse:

"O pai de Alice obriga-a a frequentar aulas de esqui, para provar que é forte e competitiva. Ela odeia esquiar. A manhã está coberta de nevoeiro, não lhe apetece ir, ainda sente o peso do leite matinal no estômago. No teleférico, descuida-se e faz chichi. Humilhada, tenta esquiar rapidamente colina abaixo, mas sai da pista e parte uma perna. Deixa-se ficar, imóvel na neve, a pensar que vai morrer. Não morre, mas fica coxa para o resto da vida.

Mattia é um rapaz muito inteligente que tem uma irmã deficiente mental, Michela, cuja presença constante afasta potenciais amigos. Quando um colega os convida para uma festa, Mattia deixa a irmã num banco de jardim, dizendo-lhe que espere ali por ele. Mas quando regressa não a encontra. Michela desapareceu para sempre.

Histórias de vidas separadas. Como os números primos.

Os números primos são números inteiros divisíveis por eles mesmos e pela unidade. São por isso, números solitários e suspeitos. Mattia e Alice são assim. Dois seres sós e perdidos, próximos, mas não o suficiente para se encontrarem totalmente."

Fantástico. Um livro brilhante, muito bem escrito, de uma profundidade tocante. Paolo Giordano, revela neste seu primeiro livro, uma maturidade espantosa.

Alice e Mattia são duas crianças que se esforçam por uma infância normal. Alice tem um pai dominador, que a quer forte e resistente e para tal obriga-a a frequentar aulas de esqui, o que ela detesta. Mattia, procura ter amigos e poder brincar se forma livre, mas a irmã gémea, deficiente mental, impede essa normalidade, pois está sempre presente e a requerer a constante atenção e cuidados do irmão.

Alice tem um acidente e fica coxa para sempre. Desde então ganha uma aversão à comida e obsessão pelo seu corpo. A sua revolta é dirigida ao pai, que constantemente desafia e confronta.

Mattia volta de uma festa e não encontra a irmã no banco de jardim onde a deixou, para poder disfrutar plenamente da primeira festa para a qual fora convidado. Procura-a, mas as suas buscas são em vão. É encontrado à beira de um rio, a fazer inúmeros cortes nas suas mãos.

Ao longo do livro, acompanhamos as duas personagens num período compreendido entre 1983 e 2007.

Mattia e Alice são dois jovens solitários, ela numa procura constante de aceitação pelos outros e pelo seu corpo, e ele fechado numa concha, onde não permite que os outros entrem, encondendo as suas mãos mutiladas. As suas vidas cruzam-se e nasce entre eles uma relação de complicidade única, em que cada um continua a viver a sua solidão sem dela falar. No entanto é precisamente a proximidade de sentimentos e a cumplicidade que os une, os responsáveis pelo seu afastamento.

Uma história que relata o sofrimento de dois jovens. Uma história que está bem próximo daquilo que se passa tantas vezes na realidade, e que, tal como no livro, passa despercebida. Dois jovens que enviam sinais de pedidos de ajuda, mas que encontram o seu eco um no outro. A realidade e o sofrimento de quem vive com a anorexia e a auto-mutilação são exploradas de uma forma brilhante e intensa neste livro.

O leitor é conduzido para as vidas das personagens até que se sente tão próximo, que consegue vivenciar a tensão presente em todo o livro.

E não podia deixar de falar da capa: a sedução deste livro começa logo aí. Um rosto jovem, anónimo, que nos olha e cativa. Um olhar que nos seduz, mas que ao mesmo tempo nos faz sentir a urgência de um apelo. Um olhar que nos faz abrir o livro e não parar até ao fim.

Recomendo sem qualquer dúvida!

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