Confesso que nada do que está escrito no livro me surpreende, mas talvez isso se deva ao facto de nunca ter sido convencida pelos pais da criança. Desde o início que a tese de rapto não me convence, assim como não me convence uma mãe que num curto período de férias, num país estrangeiro, prefere deixar os seus filhos numa creche enquanto corre pela praia ou joga ténis, mas que após o desaparecimento de um deles faz questão de andar agarrada ao seu boneco preferido.
Muitos foram aqueles que me chamaram de fria, por não me comover com as lágrimas ou "esforços" desenvolvidos pelo casal McCann, na busca da sua filha desaparecida. Muitos são aqueles que, agora, sentem os seus sentimentos usados.
Surpreendida fiquei, com o movimento cívico que se gerou em redor deste acontecimento. Tantas crianças desaparecidas em Portugal e nunca se tinha assistido a uma mobilização como aquela que este caso gerou. Ingleses houve, que se despediram dos seus empregos e vieram para Portugal, em busca da criança desaparecida. Os portugueses choraram e sentiram a perda daquela criança como se sua fosse.
Na realidade, este caso prova, que com jeito e saber, a comunicação social consegue mesmo mover massas. Aliás, um dos grandes problemas desta investigação foi mesmo a comunicação social, paralelamente às pressões políticas (que não afirmo existirem, mas acredito que sim!). A comunicação social contaminou toda a investigação, não permitindo à PJ algumas diligências importantes. É claro que perguntamos: " Mas a Polícia Judiciária anda a mandado da comunicação social? Não foram feitas diligências importantes por causa da comunicação social?". Por muito que nos custe aceitar, essa é a realidade, pois existem procedimentos forenses que fazem sentido desde que existam condições para tal. Alguns dos procedimentos poderiam indiciar suspeitas que não deveriam ser do conhecimento alheio, mas apenas dos envolvidos na investigação: polícias, investigadores e suspeitos. Mas todos nós sabemos que os repórteres na altura, até seriam capazes de se disfarçar de pedras da calçada para conseguirem uma imagem desfocada de qualquer coisa que depois seria comentada da forma mais mediática possível, de preferência com um directo, nem que este tivesse apenas como fundo uma porta fechada.
Não estou aqui a condenar a comunicação social pelo espectáculo criado; se culpados há, não seram com certeza os repórteres a quem acenaram com uma mina de notícias. Apenas considero que se deveria ter tido bom senso, parar e pensar . Pensar que muita coisa poderia estar em jogo, que se estava no seio de uma investigação criminal, que uma criança tinha desaparecido sem deixar rasto, que era importante deixar quem sabe apurar a verdade... Teria sido importante refrear os ânimos, pensar com a cabeça e não com o coração. Em casos como este devemos ser racionais e não emotivos, tais como foram aqueles que fizeram desaparecer a criança.
Em relação ao livro, gostei da forma como está escrito: relata a investigação, as suas dificuldades, as dúvidas surgidas e as perguntas que ficaram sem resposta. Ficamos a conhecer as contradições, as pistas, os testemunhos, os resultados a que chegou a equipa de investigação que me parece ter sido incómoda para alguns. Os resultados foram os seguintes:
- " A menor Madeleine McCann morreu no apartamento 5A do Ocean Club, da Vila da Luz, na noite de 3 de Maio de 2007;
- Ocorreu uma simulação de rapto;
- Kate Healy e Gerald McCann são suspeitos de envolvimento na acultação do cadáver da sua filha;
- A morte poderá ter sobrevindo em resultado de um trágico acidente;
- Existem indícios de negligência na guarda e segurança dos filhos."
Incómodo foi também o Coordenador Operacional da investigação, afastado da mesma a 2 de Outubro de 2007. Porquê? Porque pessoas de convicções tornam-se incómodas quando "valores" mais altos se fazem ouvir.
Parafraseando Gonçalo Amaral: "Uma investigação criminal apenas se compromete com a busca da verdade material. Não se deve preocupar com o politicamente correcto".
Fiquei com a sensação de que Gonçalo Amaral não escreve tudo o que sabe, mas o que escreve é suficiente. E por vezes não devemos ir além do suficiente...
5 comentários:
Concordo plenamente com tudo o que escreveu.Também sou mãe e acho que essa senhora não pode ser chamada de mãe. Quis ter filhos para quê? para os deixar sozinhos ou então ao cuidado de outras pessoas.Eu e o meu marido aproveitamos as nossas férias para estar o máximo de tempo com os nossos filhotes.
Confesso que estou um pouco curiosa sobre este livro.
No entanto, com a mediatização da história fiquei um bocado "farta" do tema.
Daqui a uns tempos hei-de lê-lo.
:)
Obrigada pela tua opinião.
Gostei mto.
E do blog tb.
Vou lincar-te no meu, pode ser?
Abraço
fercarvalho,
obrigada pela visita. Claro que podes "linkar"!
O que mais me agradou foi, precisamente, a forma como está escrito: despretencioso, sem vedetismos ou sensacionalismos.
Em resposta ao teu comentário, acho que o livro "Nome de código: Leoparda" já não deve estar à venda no CL mas encontra-se nas livrarias normais:
http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=79442
Espero ser sido útil.
Quanto a este livro da Maude, não estou minimamente interessada, acho tudo uma fachada! os pais são falsos, foram irresponsáveis e etc, e, ainda por cima, portugal nunca fez todos os meios possiveis de procurar outras crianças desaparecidas! Por isso, não quero saber da maude, o que andam a dizer isto ou aquilo, o que é verdade ou mentira, etc, etc. Tudo isto é uma perda de tempo e, alias, há outras coisas mais importantes que merecem toda a nossa atenção. Mas gostei ler o teu comentário. Continua assim. :-)
Obrigado Flicka, pelo teu comentário. Dicas sobre livros são sempre úteis.
Confesso que todo o mediatismo em redor do "caso Maddie" também me saturou, ao ponto de, na altura, até mudar de canal no horário dos noticiários.
Mas não podia deixar de ler o livro escrito por Gonçalo Amaral.
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