sexta-feira, 31 de agosto de 2007

30 de Agosto de 2007

Como é do conhecimento de muitos de vós, ontem fiz 34 anos. Eu sei que não se esqueçeram, e como bons amigos e amigas que são, mimaram-me com telefonemas surpresa - e é sempre tão bom ouvir a voz das pessoas de quem gostamos - e com mensagens, para o telemóvel ou via net - e também é bom ler as palavras que nos dedicam.

Enfim, depois de um dia passado em família, com algumas e boas prendas e o tradicional bolo de aniversário, eis que chega a hora de partir, rumo a Viseu, para ver mais uma vez, os Xutos e Pontapés ao vivo. Desta vez, partilhando o meu dia, ou melhor, o final da noite, de aniversário com a minha banda de culto, com aqueles que admiro e sigo há 20 anos.


E assim foi... indo eu, indo eu, a caminho de Viseu... lá cheguei e encontrei outros como eu, que fazemos quilómetros para ver a maior banda de rock portuguesa, que vibramos nas grades ao som das guitarras do Zé Pedro e do João Cabeleira, que acertamos os nossos corações pelas batidas do Kalú, nos deixamos embalar pela voz do Tim, ao som do sax do Gui.

Bem, chega de palavras, aqui deixo algumas imagens que captei...








segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Cântico Negro

Partilho convosco um poema com o qual me identifico completamente.

Vem por aqui!
Dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem:- Vem por aqui!

Eu olho-os com olhos lassos...
Há nos meus olhos ironias e cansaços,
E cruzo os braços, e nunca vim por ali.

A minha glória é esta:
Criar desumanidade, não acompanhar ninguém...
Que eu vivo com o mesmo sem vaidade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, Não vou por aí!
Só vou por onde me levam meus próprios passos,
Se ao que busco saber, nenhum de vós responde,
Porque me repetis:- Vem por aqui!

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhos aos ventos,
Como farrapos arrastar os pés sangrentos...
- A ir por aí!

Se vim ao mundo...
Foi só para desflorar florestas virgens
O mais que faço, não vale nada.

Como pois sereis vós!
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem,
Para eu derrubar os meus obstáculos.
Corre nas nossas veias
Sangue velho dos avós,
- E vós amais o que é belo
Eu amo o longe e a miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos.

Ide!
Tendes estradas, tendes jardins , tendes canteiros
Tendes pátrias e tendes tectos,
E tendes regras e tratados, filósofos e sábios
- Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura
E sinto espuma e sangue
E cânticos nos lábios.

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
-Todos tiveram pai, todos tiveram mãe,
Mas eu, que nunca principío nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah! que ninguém me dê piedosas intenções
Ninguém me peça definições,
Ninguém me diga: - Vem por aqui!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou.´
É um átomo a mais que se animou,

Não sei por onde vou, não sei para onde vou:
- Sei que não vou por aí!

(José Régio)

domingo, 26 de agosto de 2007

As Mãos


Mãos que trabalham
Para alimentar o Mundo

Mãos que lutam
Para serem alguém

Mãos que falam, que gritam
Que roubam e matam
Na luta da vida

Mãos que amam, acariciam
Beijam e adormecem

Mãos com vida
Vida nas mãos

E as minhas mãos
Que lutam na vida
Têm a vida adormecida
Por não te poderem tocar!
(Homem do Leme)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Casal Ventoso



"A Voz do Mal"

Sei que te queres esconder
Sei que me queres deixar
Vais ter muito que correr
Sabes que te vou achar

Na aldeia mais distante
Acabarei por te encontrar
Esperarei por um sinal
Da tua sombra ao passar
Á luz da lua
A voz do mal

Uma rua mais sombria
O cenário habitual
Uma noite vazia
Mudares o teu final
Para acabar tudo de vez

Tu vais ter que me matar
Eu ficarei para sempre em ti
Esse remorso fatal
Desconheço a voz de Deus
Só conheço a voz do mal
Desconheço a voz de Deus
Só conheço a voz do mal

(Tim/Xutos e Pontapés)


Hoje, ia a caminho do trabalho e ouvi esta música no meu mp3. De imediato vieram-me à mente imagens de um tempo passado, que deixou marcas em mim e me tornou na pessoa que sou hoje - o tempo em que trabalhei no Casal Ventoso.

É verdade, em 1998 eu trabalhava no Casal Ventoso, como voluntária - fui para esse bairro porque queria trabalhar lá, foi uma escolha minha. E não me arrependo, bem pelo contrário, voltaria. Era outro mundo, outra realidade, que começava na Meia-Laranja e acabava ao fundo da Rua Arco do Carvalhão. Muito próximo fica o Cemitério dos Prazeres - sempre achei irónico...

Percorri quilómetros naquele bairro, a pôr em prática o que o curso de terapeuta de toxicodependentes me tinha ensinado e o que o Curso de Psicologia me ia ensinando... mas não há teoria que sobreviva, não há saber que resista, se não formos aquilo que aquelas pessoas procuravam em nós - sermos pessoas, sermos humanos...

Passava os dias naquelas ruas, com os toxicodependentes, e quando regressava a casa, muitas vezes chorei de revolta, de impotência, de desespero por aquilo que via, mas regressava sempre com o coração cheio.

Vi muitas coisas, que ainda hoje não me parecem reais, vi partos no meio da rua, de mulheres que não sabiam que estavam grávidas e julgavam estar a sofrer as dores da ressaca, vi crianças de 10 anos a consumir heroína, vi gente a morrer, vi mortos, vi corpos que se arrastavam sem consciência que ainda viviam... mas também vi olhares de esperança, lágrimas de gratidão, pais à procura de filhos, filhos a encontrar os pais, acima de tudo, vi PESSOAS.

Ouvi histórias inacreditáveis, conheci vidas impensáveis, vivi tempos indescritíveis...

Mas foi enquanto lá trabalhava, que mais aprendi sobre o ser humano, que mais cresci... Foi lá que conheci as pessoas mais bonitas que conheci até hoje...

Para lá do toxicodependente, da degradação que todos viam e a que todos viravam a cara, eu vi, eu conheci, pessoas com uma enorme capacidade de amar, em sofrimento, a pedir ajuda, a pedir apenas uma palavra amiga ou um sorriso... Pessoas a quem um dia faltou algo que a droga preencheu...

Adorei o trabalho que fiz... Voltaria a fazer tudo outra vez...

domingo, 19 de agosto de 2007

"EQUADOR" - Miguel Sousa Tavares



Foi com esta história, comovente, perturbadora e sensual, que Miguel Sousa Tavares iniciou a sua caminhada pelo romance.


Equador é a história de Luís Bernardo, sócio principal da Companhia Insular de Navegação, 37 anos, solteiro e dado a aventuras de saias, que numa manhã chuvosa de Dezembro de 1905 parte de Lisboa, rumo a Vila Viçosa para um encontro com El-Rei D. Carlos.


Quando partiu não sabia, nem imaginava que o esperava algo que o levaria a trocar a sua vida despreocupada, por uma missão patriótica, mas arriscada, na longínqua ilha de S. Tomé.


Ao aceitar o cargo de governador, assumiu também a defesa da dignidade dos trabalhadores das roças, vendo-se por isso, no seio de uma rede de conflitos de interesses com a metrópole.


Luís Bernardo é um homem apaixonado pela sua luta, pela sua causa e defende-as até ao fim, sem temer as consequências da justiça e da igualdade que procura para os trabalhadores das roças.


O que Luís Bernardo não sabe, é que é também em S. Tomé que vai conhecer a paixão e o amor. A descoberta do amor que lhe vai mudar a vida. Num estilo queirosiano, Luís Bernardo envolve-se numa paixão quente e sensual com Ann, mulher de David, cônsul inglês, que está em S. Tomé devido a erros cometidos no passado, na Índia.


Enquanto vive a luta ao lado dos trabalhadores das roças, Luís Bernardo vive também o seu amor, na ambiguidade do desejo e da culpa, do prazer e da traição.


Uma história envolvente, que nos prende desde a primeira página, retratando os últimos dias da monarquia portuguesa, entre os serões mundanos da capital e o ambiente retrógado das colónias.


O fim... esse deixo para quem ler o livro...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Dois momentos de poesia ...

SE TU FOSSES...

Se tu fosses o mar
Eu seria uma praia
Onde virias em cada momento
Com o teu corpo embalado pelo vento
Tocar o meu, muito de leve
Como se dos cabelos de um anjo se tratasse
Depois envolver-me-ias na espuma das tuas ondas
E contigo navegaria em oceanos desconhecidos

Se tu fosses uma flor
Eu seria um pássaro
Leve e pequenino - tal qual um beija-flor
E quando me alimentasse do teu pólen
Não o faria, mas antes
Envolver-te.ia com as minhas asas
Beijar-te-ia e enlaçados num amor mágico
Levava-te comigo e voaríamos
Num bailado de amantes alados

Se tu fosses o Sol
Eu queria ser a Lua
Para que eternamente
Na magia da noite ou na beleza do dia
Brincassemos, sem ninguém perceber
Nos amássemos em segredo
E de seguida repousassemos
No leito da cumplicidade




NA ALQUIMIA DA VIDA...

Na alquimia das letras
Descobri as tuas palavras
Profundas e sentidas
Leves e divertidas
Trocadas com prazer

Na alquimia dos sons
Ouvi a tua voz
Melodia suave
Como o toque de um amante
Que embala os momentos partilhados

Na alquimia dos sentidos
Cruzei o teu olhar
Intensidade enebriante
Que sem palavras me diz
Que posso confiar
Vi o teu sorriso
Tímido e sedutor
Que me faz viajar
Num universo calmo
Numa galáxia de ternura

Na alquimia das emoções
Encontrei a tua amizade
Sentimento forte e profundo
Sensações envolventes
Onde me perco sem culpa
Onde navego sem rumo
Com a certeza que me levarás
De regresso a porto seguro

(Homem do Leme)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Circo de Feras

Aqui vos deixo mais uma música de que gosto tanto:

A vida vai torta
Jamais se endireita
O azar persegue
Esconde-se à espreita

Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo

E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto

De modo que a vida
É um circo de feras
E os entretantos
São as minhas esperas

E enquanto esperava
No fundo da rua
Pensava em ti
E em que sorte era a tua
Quero-te tanto
Quero-te tanto

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